Esse mundo não pode durar muito


Esse mundo não pode durar muito.”
” – Nenhum pode.”

E é claro que não. A renovação é uma lei irrevogável da vida. De tempos em tempos nossas células se renovam e somos completamente reconstruídos. Assim também é com toda face da terra e toda a biosfera. Constante degeneração e recomposição. Toda matéria viva está para ser consumida e trazida de volta. E todo ser que nasce, cresce e se reproduz precisa estar completamente engajado em seu ambiente, do contrário, desaparecerá antes que seus descendentes possam povoar também sua terra.

Nenhum grupo ou espécie dura para sempre. Isso não é necessário, nem possível. Todavia, nenhuma espécie precisa ser extinta antes antes de não estar mais adaptada ao seu ambiente. Assim como um indivíduo não precisa morrer antes que seus órgãos deixem de realizar suas funções vitais. No entanto, sabemos que esses são eventos inevitáveis. Aliás, tragédias sempre vão acontecer. Jovens irão perder suas vidas, amantes irão partir seus corações, a lava dos vulcões escorrerá e engolirá toda a vida ao seu redor. Mas isso não importa. O que importa é que estamos aprisionados em mundo que fez de tragédias sua condição de existência. E esse mundo já durou mais do que poderia – e deveria – durar. Muitos foram os que o antecederam e todos que dependiam de tragédias para existir foram destruídos por elas e tragados pelo solo. Sobraram apenas as ruínas de suas pirâmides, templos e cidades.

Esse mundo está para acabar. Qualquer pessoa com mínima noção de biologia, geografia ou economia pode perceber isso. Não se pode destruir tudo o que é necessário para se manter e ao mesmo tempo crer que vamos durar para sempre. Mas é isso que nossa civilização faz. E se o fim está próximo, será que precisamos fazer com que ele aconteça da forma mais dolorosa possível? Podemos abrir mão da bagagem excessiva, mas escolhemos afundar abraçados a tudo o que aprendemos a nos apegar. Podemos olhar para além dos portões de nossa cultura para ver como a vida acontece lá fora, mas escolhemos padecer entre as muralhas achando que não existe outra forma de se viver. No final, olhar para fora será necessário quando nosso mundo adentrar numa cadeia de eventos que iniciarão os tempos do seu colapso. No lugar de sonhar com outro mundo possível, poderíamos ampliar o alcance de nossa visão para pensar num outro fim do mundo possível.

Nos atolamos cada vez mais em relações artificiais, num constante processo de domesticação do planeta e de nós mesmos. Tudo o que sabemos é trabalhar por dinheiro para trocá-lo por comida e o que mais precisamos. Quando enfim não houver mais energia para manter nossas tevês ligadas, nossas vias iluminadas ou trazer a comida plantada a milhares de quilômetros de nossas casas, sairemos às ruas, olharemos pela primeira vez nos olhos de nossos vizinhos para descobrir seus nomes e então seremos obrigados a nos virar juntos. Estaremos por nossa conta, pois até então só aprendemos a dialogar com nossos contra-cheques, cartões e com o caixa dos supermercados. Isso não é ser um ser vivo, mas um autômato. Se quisermos nos manter como indivíduos – e, consequentemente, como espécie – teremos de aprender a dialogar como nosso ambiente, buscar nossa autonomia energética, alimentar e habitacional. Nesse momento, perceberemos que não é possível pavimentar nosso habitat com concreto e asfalto para trazer de fora a água, a energia, o alimento e o material de nossas casas. Entenderemos que nossos lares não podem seguir a lógica de colônia e metrópole para existir. Se quisermos nos manter indefinidamente, devemos saber lidar com o que existe no lugar onde vivemos e em parceria com todos com os quais convivemos.

Catarina D.
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