Criatividade Libertadora

Não há nenhuma nobreza, nem nenhuma superioridade moral no que digo. O que quero para mim e para o mundo não é em si a melhor opção possível, nem a mais certa. É simplesmente o que prefiro. Uma escolha dentre infinitas possibilidades. Eu simplesmente não quero buscar um lugar confortável dentro desse mundo e chamar isso de liberdade. Não quero repetir até morrer que é preciso ser honesto, trabalhar pagar as contas e comprar o que meu orçamento me permite para ter alguma garantia de felicidade ou uma aposentadoria segura.  Simplesmente discordo de que o planeta é nosso para fazermos o que quisermos.
Eu nem acredito em um nós, pois eu não ganhei nenhuma Copa do Mundo, não sou o maior exportador de carne ou minério, não estou atrás nem na frente de ninguém no índice de analfabetismo e nem enviei tropas para o Haiti. Essa identidade não existe e não quero fingir que sim. Não me interesso pelo que o progresso tecnológico pode me oferecer pelo preço de mais devastação eescravidão. Não me satisfaço em viver em um mundo de mentira projetado e executado para conter o patriarca branco de meia idade e seuss úditos, colonizando o que ainda não foi soterrado por concreto e asfalto para fornecer comida, matéria-prima e energia para manter o processo alienante e suicida que chamamos de crescimento e progresso. Não quero ser um cidadão, um eleitor, um consumidor, um estudante, um bacharel, um militante, um empregado ou um patrão. Se você simplesmente também não quer, então acho que realmente temos alguma coisa em comum.


E assim como não há de quê se orgulhar, não há do que se envergonhar. Não há porque não tentar viver o que queremos assim como não há porque aceitar continuar fazendo tudo isso que não queremos. E se já sabemos o que queremos ver abolido do mundo, temos que abolir de nossas vidas, pois elas são o único terreno em que queremos ter total controle. Se você, como eu, acha que certas coisas são simplesmente inaceitáveis, provavelmente concorda que a única coisa que podemos fazer é nos desvencilhar delas e dizer aos que estão ao redor nossos motivos. Pois não precisamos impor nada à ninguém. Não tenha medo de dizer o que quer para sua vida e de tentar passar suas ideias adiante.
Dizer o que gostamos, o que queremos e o que somos contra não tem nada a vercom tentar dizer às pessoas o que elas devem ou não fazer. Não caia  na armadilha daqueles pseudo-rebeldes, acadêmicos de boteco que relativizam tudo e enxergam qualquer opinião que indique uma ruptura radical com a ordem estabelecida como um possível totalitarismo travestido.
Algumas pessoas não conhecem formas de apresentar uma nova opinião que não passe pela imposição dela como um nova determinação do que é certo e errado para todas. Porque é isso que nossa cultura faz e é isso que aprendemos a fazer. Deixe-as morrer detédio entre garrafas no bar ou em cima dos livros da faculdade e vamos buscar entre nossas afinidades novas formas de agir e revolucionar nossas vidas. Se formos sinceras e criarmos algo mais divertido, emocionante e atraente do que essa vida miserável que nos é apresentada, não precisaremos impor nada a ninguém e nem tentar argumentar com valores universais para que as pessoas desistam de reproduzir uma cultura suicida e se abram para uma criatividade libertadora.

Catharina Disangelista
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